sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Nosso Lago

Ele deixou-me sem o menor ressentimento. Nem um resquício de culpa havia em seus olhos.

E tudo o que vivemos? Todas aquelas promessas? Sonhos que agora precisam ser desfeitos.

Se fosse para ser assim, que não tivesse sido.

Ele se lembraria dos passeios de domingo de mãos dadas às margens daquele lago? Aquelas águas guardam todos os sorrisos sinceros, os olhares confidentes, os afagos gentis.

Costumávamos caminhar descalços, sentindo o orvalho das manhãs na grama.

Eu gostava quando nos movíamos lentamente, como se assim fosse possível registrar em fotografias mentais cada detalhe de seus gestos. O sol batendo em seus braços revelava suaves fios dourados. Seus olhos passavam de um tom acinzentado, para um verde-esmeralda. E seus pensamentos pareciam ser revelados a mim por completo, na medida em que se formavam.

Sobre aquela grama planejamos nosso futuro. Imaginamos como seria linda e aconchegante a nossa casa, cheia de pequeninos alegres, saltitantes e com cheirinho de algodão doce.

Foi nesse mesmo lugar que ele pediu que eu fosse a sua mulher. Para sempre, sua mulher. Foi de todos o dia mais magnífico.

Seríamos o casal mais feliz da face da Terra. Viveríamos como eternos namorados.

Prometemos fidelidade. Prometemos companheirismo. Prometemos amor eterno.

Mas de repente aquelas manhãs tornaram-se nubladas e uma chuva torrencial desabou sobre mim.

Ele está indo embora e não tem nada que eu possa fazer para impedi-lo.

Teria eu cometido algum grande erro? Deixado de demonstrar o desmedido amor que por ele aumenta a cada dia? Ou ao contrário, teria eu exagerado nos carinhos? O sufocado? O que teria eu feito de errado? Talvez eu não tenha sido uma boa ouvinte? O que teria acontecido?

Ele está partindo.

Saiu pelo portão.

E o meu beijo? Nunca saiu sem me dar um beijo.

Já é tarde. Ele se foi.

E agora estou eu aqui. Em pedaços. Debruçada aos pés de nossa cama.

As lágrimas não cessam. Não cessarão. Como foi que chegamos a esse ponto? E que grande desvio foi esse? Não foi o planejado. Não foi o sonhado

É certo que as promessas se desfaçam como açúcar em água?

Meu grande amor partiu e nunca mais voltará. E eu nem sei a razão. Foi-se como uma pluma em um vendaval.

Hoje estou aqui. Mas apenas metade de mim. Porque a outra se foi com ele.

Muitos anos se passaram e sigo frequentando o nosso parque em todas as manhãs de domingo. Olho para aquele lago e deixo minhas lágrimas se misturarem àquelas águas. Dessa forma reencontro-o, revejo seu doce sorriso, os fiozinhos dourados de seus braços, o verde cristalino de seus olhos e então escuto suas promessas de amor eterno. Esses nossos encontros me revigoram, me confortam. A espera ansiosa pelos domingos é hoje minha razão de viver.

Quem sabe um dia ele não retorne ao nosso lago e encontre ali o intacto reflexo do nosso amor...

segunda-feira, 4 de julho de 2011


Às vezes eu penso que sou um prato cheio para terapeutas.
Sabe quando a gente tem a sensação de que pensa em coisas inimagináveis por outros seres deste mundo?
Pois é... eu tenho essa impressão o tempo todo a meu respeito.
Adoro entrar em filosofias malucas sobre absolutamente tudo. Um dos meus hobbies prediletos é observar as pessoas que andam na rua. Se fico parada muito tempo sozinha em algum lugar - dentro do carro, por exemplo - tenho que me concentrar pra não ficar com cara de “desconectada do mundo”. Me perco por horas a fio pensando e pensando. Muitas vezes sem chegar a nenhuma conclusão muito clara, mas satisfeita pelo simples fato de ter entrado em um monólogo tão agradável comigo mesma.
Aliás, sábado foi um dia desses.
Era a hora do programa da Xuxa na emissora mais tendenciosa do Brasil. Ok. Pausa para comentários do tipo “ela vê a Xuxa???”.
Não, eu não vejo a Xuxa.
Tá... às vezes, quando não tem nada pra fazer e blá blá blá pode ser que eu acabe “olhando” assim, como quem não quer nada.
Mas na década de 80/90 eu via.
Todo o santo dia.
Não apenas via, eu enlouquecia com o “Xou da Xuxa” com “x”.
Via sim. E me esbaldava.
Amava quando minha então musa inspiradora saia da nave.

Eu cantava todas as músicas de cor.
E... não, eu não queria ser uma Paquita. Eu queria ser A Xuxa.
Gentem, eu sempre sonhei alto. Tudo bem, não deu certo (ainda). Mas sigo me imaginado em palcos absurdamente glamurosos com uma multidão gritando meu nome (olha aí o prato abarrotado para os terapeutas).
O fato é que o programa era uma homenagem pelos 25 anos de carreira da loira. Muitos cantores, até Caetano Veloso, estavam fazendo parte da festa (que parecia tudo menos festa, tamanha era a tristeza da “Rainha”). Todas aquelas músicas que marcaram a minha infância foram cantadas. Para os agora intelectuais de plantão, eu diria “todos aqueles atentados à música foram reproduzidos”. Mas não esqueçam que todos nós repetíamos entusiasmados aquilo tudo. Na época, nenhum de nós ainda tinha se tornado um intelectual chatinho em sua roupinha arrumadinha acreditando ser o guardião da suprema sabedoria. Éramos todos crianças felizes e saltitantes ao som de Ilariê. E eu sei que todos éramos bem mais felizes assim.
Bom, o programa foi rolando juntamente com todo o estoque de lágrimas que meu corpo dispunha. Fui literalmente visitada, ou melhor, invadida pela minha infância. É engraçado como as lembranças da meninice ficam tão claramente registradas, não?
Que nostalgia!! E a saudade de tudo tomou conta de mim. O que por sinal não é raro de acontecer.
Fui redimensionada para as manhãs ensolaradas, o cheirinho do almoço, a facilidade da vida, e com aquelas letras infantis, fui relembrando a forma como eu via o mundo e a vida.
Eu tinha tantos planos, que se eu quisesse colocar em prática metade deles, eu precisaria viver, no mínimo, uns 300 anos.
Eu acreditava que quando eu crescesse e virasse “adulta” (oh, que palavra de peso!), seria uma outra pessoa, com uma memória zerada, e eu morria de medo de virar uma típica adulta chata e séria. Hoje percebo que foi uma preocupação em vão.
Simplesmente hoje, constato que sou a mesma pessoa da época do programa da Xuxa. O que quero dizer, é que minha essência é idêntica. Claro, amadureci, evoluí como pessoa, mas sempre com o mesmo perfil, os mesmos valores e, muitas vezes, os mesmos gostos. Continuo, inclusive, detestando adultos chatos, que não conhecem o sabor de uma boa gargalhada. E, até arrisco dizer, que consegui não me tornar um deles! Infelizmente, em função da falta de tempo já mencionada, tive e sei que terei de abrir mão de alguns sonhos (ser uma bailarina clássica de renome é um deles). Mas ainda há tempo para muita coisa! Há tempo para aproveitar cada dia vagarosamente, como fazem as crianças, cujos dias parecem representar para elas, o que uma semana inteira representa para nós. E nesse ponto, ninguém deveria crescer.
Estou parecendo Michael Jackson (ídolo!) em busca da Terra do Nunca. Mas não posso negar que foi exatamente o que senti enquanto eu assistia aquele programa, ao som de Doce Mel e Abecedário da Xuxa.
Aqueles que viveram a infância de 80 e 90 e que têm um mínimo de sensibilidade sabem do que estou falando.
É de Xuxa, Chaves, Chapolin, Caverna do Dragão, O Fantástico Mundo de Bobby e Cavalo de Fogo que falarei, quando for contar a meus netos como era a minha época. Aliás, nem tão longe preciso ir. É sobre eles que falarei aos pequenos de hoje, como meu afilhado e o filho de minha amiga, quando eles, entretidos em tanta tecnologia, derem risada por terem existido programas tão ingênuos.
É... e seguirei chorando quantas vezes meu corpo disser que é necessário, até conseguir extravasar pelo menos metade da saudade que sinto daquele tempo.
E sobre o que eu disse no início... Pensando bem, acho que todos nós somos pratos recheados para terapeutas. Aliás, acho vital que seja assim. Nada mais saudável do que se perder em emaranhados de pensamentos que nos propiciam sensações das mais diversas. Isso é da essência das pessoas. Afinal de contas, somos humanos. Simples assim!

sexta-feira, 27 de maio de 2011




Vou lutar até que minha consciência aponte o limite.
Não mais ouvirei palavras propositadamente atravessadas por uma maldade que pensa reinar em um mundo onde tudo está tão confuso.
Por todo o tempo que possível for olharei para os céus e buscarei a mais bela das inspirações para seguir em frente sem que nada interfira em meu caminho.
Nada nem ninguém pode deter uma alma que clama por liberdade. Por paz. E por luz.
Uma alma que incansavelmente luta por uma quimera, talvez.
Mas não desistirei.
E escrevo estas palavras para que o tempo não apague de minha mente juvenil aquilo que hoje ainda creio ser possível.
Um dia cessarão as munições das armas que se debruçam em ombros de homens que cansarão, eu sei, de tanta tristeza.
Os doutores e mestres perderão seus títulos.
Os presídios abrirão seus portões e seus muros serão derrubados, libertando homens transformados e arrependidos.
E todo sentimento de vingança e mágoa findará.
Um mundo de paz estará à espera de nossos filhos e de nossos netos. De forma que seus olhinhos, cheios de pureza, sejam poupados de presenciar a mais cruel das violências - o homem contra ele próprio.
Preciso evitar que isso aconteça.
Atravessarei as matas mais escuras e longínquas porque sei que ao fim encontrarei a grandeza de uma terra abençoada.
E não me perderei por um caminho equivocado que aponta para uma pseudo felicidade.
Nada desviará a minha atenção.
Nem a decepção que atitudes equivocadas podem proporcionar.
Nem palavras pronunciadas com o intuito de ferir.
Nem olhares de reprovação.
Nem mesmo um receio inconsciente de que talvez eu possa estar sozinha nessa batalha.
Seguirei sempre em frente como um soldado que ao marchar jamais desvia do foco.
Farei a minha contribuição. E preciso fazer. Não por pretensão, mas porque sei o quanto um ser pode modificar grandiosamente vidas.
Quiçá um dia as crianças possam livres correr em campos floridos, com o vento embaraçando seus cabelos e a luz do sol brilhando em seus rostos.
Não tão longe está o dia em que isso ocorrerá.
E jamais se terá visto a plenitude da vida de tal forma.
Enquanto esse dia não chega, continuarei com minha incansável e vital loucura – se é que é assim que preferem denominá-la - em busca de uma terra de paz, onde a bondade e o caráter não serão motivo de vergonha, ao contrário, serão a moeda que valorará o poder e a riqueza dos homens.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Minha mensagem de Ano Novo




Fecho meus olhos ao som de uma linda melodia e no mesmo instante me transporto para um lugar distante.
Como em um passe de mágica estou num mundo brilhante e feliz. Nesse lugar só existe o que é bom. Sem tristezas, nem medos. Aqui todos sorriem para mim. Dão-se as mãos e oram a todo instante. Oram em agradecimento, oram dando graças a Deus pela beleza da vida.
Resolvo passear por esse mundo dos sonhos como uma criança que se depara com uma loja inundada de doces. Eu quero saborear cada instante. Quero sentir o perfume das pessoas. Quero deixar que tome conta de mim aquela paz.
Quando foi a última vez que senti essa felicidade? Talvez o mais próximo tenha sido quando eu era criança e meu coração ainda não havia sido tomado pelas coisas do mundo de onde vim.
E por que então, justo agora, quando cada vez mais afastam de mim a beleza do mundo infantil que eu conhecia... Por que agora, assim de repente eu volto a sentir aquele frio na barriga de felicidade?
Nesse lugar nós percebemos que o que chamamos de problema, são dádivas. São presentes que Deus coloca no nosso caminho, para nos aproximarmos Dele.
Mas hoje eu pude sentir que Ele chora quando vê que não entendemos isso.
Ao contrário, temos problemas e nos distanciamos.
E Ele não entende... Porque quando Ele tenta nos encher de graças para que possamos ver que é Ele quem planeja tudo, simplesmente esquecemos de nos voltarmos aos Céus para agradecer. Nem com as graças, nem com os problemas nos voltamos a Ele.
Ele fica muito triste por tentar chamar a nossa atenção de todas as formas, por tentar nos conduzir para perto Dele e ver que nossos interesses são outros...
Hoje, aqui nesse mundo mágico, eu percebo que ser o mais bonito, que possuir a maior quantidade de bens não serve para absolutamente nada.
Porque aqui as pessoas são todas iguais. E ao mesmo tempo são todas lindas. Mas é uma beleza da alma.
Aqui não existem casas, nem carros, nem bens materiais.
Existem pássaros, muitos deles, por toda a parte. Eles cantam melodias encantadoras. Existem rios de água morna e cristalina que passa pelos nossos pés nos acarinhando.
Existe um sol que não para de brilhar e uma temperatura deliciosamente reconfortante.
Todos brilham. Emitem uma espécie de corrente de felicidade para todos os cantos.
Nunca vi nada igual.
Aqui Ele reina em absoluto.
E os anjos flutuam por todos os lados. De todas as cores.
São eles que me guiam pelo caminho e me apresentam aquele mundo divino.
De repente começam todos a dançar. E os anjos me dizem que isso acontece sempre que alguém do mundo em que vivo, decide esquecer as coisas pequenas e se voltar para o Alto. Toda a vez que isso acontece, são dias de muita festa por aqui.
Enquanto eu observava uma pequena borboleta pousando em uma flor rosada, um anjo dourado me contou um grande e importante segredo:
Tudo o que fazemos na nossa vida terrena, tem uma repercussão para além da eternidade. Quando nem mais estivermos lá – no mundo de onde vim – nossas atitudes permanecerão. Sejam elas boas ou más.
Preocupei-me nessa hora...
Mas em seguida ele abriu um doce e suave sorriso, e disse que existe outro segredinho:
Até o último dia de nossas vidas terrenas o Grande e Misericordioso Pai nos dará valiosas chances de nos darmos conta disso e de, principalmente, concertarmos os erros que cometemos pelo caminho. O anjo dourado confessou que esta é a única forma de nossas más atitudes serem suspensas e não repercutirem para sempre. Quem concerta seus erros tem o poder de emitir para seus descendentes, para o Universo, para além de sua vivência, as coisas mais lindas.
Nesse momento percebi que esta é a maior herança que um humano pode deixar. O BEM! Nem imóveis, nem jóias, nem aplicações milionárias. Apenas o bem.
Em seguida, conforme o anjo terminava de falar, aquela paz incomparável foi diminuindo, a melodia dos pássaros passou a ficar cada vez mais distante e assim fui abrindo os olhos.
Eu estava de volta ao meu mundo para cumprir a minha jornada.
E ainda estava coberta por uma felicidade muito grande.
Fui despertando. E quando eu já estava completamente de volta, senti-me egoísta por chamar de problema as coisas não tão agradáveis que aconteciam na minha vida. Agora eu entendia que os denominados “problemas” eram o presente que Deus reservava para mim. Eram a forma que Ele havia encontrado de me dar a mão, de me abraçar, de me levar para perto Dele.
Então hoje, sabendo que todos naquele mundo mágico, cuidam de mim, vou sorrir incansavelmente. Vou lutar sem medo para resolver meus obstáculos e acima de tudo vou perdoar e me perdoar. Vou levantar e com todas as minhas forças e com a ajuda dos anjos, vou buscar o caminho da Luz.
Nesse ano que se inicia, prometo a todos que conheço que vou esforçar-me para presenteá-los com a maior jóia. Agora que compreendi que não vim, que não viemos, ao mundo em vão. Agora que sei que não é cada um por si, que estamos todos unidos como que por uma corrente, vou fazer o impossível para deixar para vocês, para o Universo e para meus descendentes o bem. Assim, meu coração emitirá eternos raios de paz e de amor a todo o Universo. E dessa forma, eu espero sorrir com o coração leve por ter feito a minha parte. Por ter cumprido a minha jornada.
Vamos lá!! Todos!! Deus está nos dando mais essa chance. Não espere por outras chances.
Vamos todos a partir de hoje, lutar com todas as nossas forças para nos presentearmos com o bem, para deixarmos essa herança preciosa para o mundo!!
Todos somos capazes, é só querer!
Um Feliz e Abençoado 2011!!


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Caminho



Hoje, ao sair de casa, decidi apreciar o dia. Resolvi incorporar o som das buzinas, o murmurar das pessoas e a imagem das ruas, das casas e calçadas, no trajeto que eu fazia a pé até o centro da cidade. Fiz isso para me distrair e fazer o tempo passar mais rápido. Mas ao cortar caminho pela Praça Coronel Pedro Osório, o que era apenas um passatempo, transformou-se em um dos maiores ensinamentos que já tive.

Ao me encaminhar para uma das entradas, cercada por aquelas lindas árvores, ultrapassei - no meu ritmo acelerado - um casal de namorados de mãos dadas. Ele de boina, ela com grandes óculos escuros, ambos no seu estilo moderninho de ser, moviam-se rapidamente, como que ansiosos para chegarem a algum lugar.

Avistei grupos de adolescentes, com seus “All Stars” e óculos “Wayfarer” super coloridos. Todos agitados, num ritmo aceleradíssimo. Conversando, gargalhando, uns ouvindo música, outros falando ao celular. Com tantos afazeres, não deve ter sobrado tempo para ouvir os pássaros que cantavam bem ali. Mas era uma visão bonita. Jovens, multicoloridos e tecnológicos, cheios de vida, cheios de sonhos, agitados e com pressa para dar tempo de aproveitar ao máximo cada minuto, mesmo que para isso imaginassem que fosse necessário fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo.

Por outro lado, vi tranquilos senhores sentados nos bancos. Senhores estes que, pela experiência que a vida impõe, decidiram diminuir a marcha da vida para apreciar o caminho. Uns talvez estivessem observando o movimento das folhas das árvores, outros, quem sabe, ouvindo o marulho da água jorrando da fonte, ou simplesmente curtindo respirar aquele ar. Pareciam estar tão em paz...

A seguir, quando eu já passava do meio da praça, um menininho de uns dez anos de idade passou vagarosamente por mim, saboreando um sorvete. Sua atenção era unicamente voltada para isso. Seus olhinhos brilhavam e ele parecia se importar apenas em aproveitar cada segundo daquele momento, sem pressa, sem medo de estar desperdiçando o tempo. Era o ápice de sua felicidade e ele não a deixou escapar.

E nesse instante, uma emoção ainda mais forte pairou sobre mim. Aquelas cenas eram tão “mundo”. Tão "vida acontecendo".
Sábios senhores nos bancos. Sábio menino com o sorvete. Sábias épocas da vida, a infância e a velhice.


Não sei ao certo o motivo, mas toda a vez que adentro a Coronel Pedro Osório, repenso a vida, o tempo, o sentido das coisas. É uma atmosfera tão familiar, tão pelotense. Aquelas árvores, aquela água jorrando da linda Fonte das Nereidas, aquele tom sépia... É um cenário tão poético.

Entretanto hoje foi diferente, algo naquele lugar mexeu ainda mais comigo. Aquelas pessoas, todas tão humanas, tão frágeis. Umas com seu jeito talvez errante de correr para viver, outras arrependidas, quem sabe, de tanto terem corrido buscando aproveitar o valioso tempo que supunham economizar, quando na realidade apenas viviam, como todos, no final das contas.

Minha vontade era de sentar naqueles bancos, como aqueles senhores, e olhar incansavelmente a vida acontecer. Porém, em vez disso, eu também corri, acreditando que assim eu aproveitaria melhor os minutos daquela tarde. Corri como tantos outros jovens que, acelerados, atravessavam aquela praça.

O detalhe é que o tempo passa do mesmo jeito. Mesmo que corramos, na inocência de acreditar que ele, assim, passará mais devagar. Ironicamente - com o passar do tempo que tanto queremos segurar - aprenderemos que quem tem que desacelerar somos nós, já que ele não alterará seu ritmo. Estará sempre presente, apenas observando o nosso viver. Continuará da mesma forma quando nem mais estivermos aqui. Mas só entenderemos isso depois de muito termos corrido.

Um dia, naturalmente aceitaremos que não somos super-heróis capazes de mudar nem o tempo, nem o Universo e muito menos a ordem natural da vida. Perceberemos que somos apenas humanos e que a felicidade está em simplesmente viver. E aí então, sentaremos no banco daquela praça e nos surpreenderemos com a beleza daquelas árvores e com a gostosa melodia dos passarinhos. Observaremos os jovens, os ingênuos e acelerados jovens, na correria do seu dia a dia, e perceberemos que eles também são indispensáveis para compor a beleza do lugar. Finalmente entenderemos que apesar de lamentarmos não termos vivido deliciosa e vagarosamente a vida toda, era fundamental que não fosse assim, porque é justamente cada etapa que torna o todo possível.